terça-feira, 25 de março de 2014

Eckhart Tolle - O Retiro de Findhorn



Estes ensinamentos não são baseados no conhecimento, nem em novos factos interessantes, nem sequer é uma informação nova. O mundo já está repleto destas coisas. Pressiona um botão em qualquer dos aparelhos que possui e recebe informação.

Está-se a afogar em informação.
E ultimamente qual é o propósito de tudo isso? Mais informação, mais coisas, mais disso, mais daquilo. Iremos encontrar a plenitude da vida através de mais coisas e em centros comerciais cada vez maiores e grandiosos?

Iremos encontrar-nos ao melhorar a nossa habilidade de pensar e analisar, ao acumularmos mais informação, mais tralha? Esse “mais” irá salvar o mundo?

No estado egocêntrico o amor confunde-se com a forma, por isso você pensa que o seu amor está na forma, na outra pessoa. Não reconhece que o amor verdadeiro é o reconhecimento da não forma no outro – que é o reconhecimento de si próprio no outro.

Reconhecerá isso mais facilmente nas coisas naturais. Aproxime-se primeiro do mundo da natureza e relacione-se com ela o mais que puder através da serenidade, através da Presença.
Depois, gradualmente, traga isso para as suas relações com as outras pessoas.

Deixe Ser. Esteja sereno com as outras pessoas, como está com a natureza. Sinta o campo de atenção que flui para o exterior na direcção delas. Ouça, e enquanto está a ouvir sinta-se a si próprio como o observador, a Presença, o Ser.

Quando está preso ao momento, quebra a continuidade da sua estória, do passado e do futuro. É quando a verdadeira inteligência surge, assim como o amor.
A única maneira de o amor aparecer na sua vida não é através da forma, mas através do espaço interior que é a Presença. O amor não tem forma.

Quando a mente perde a sua densidade,
você torna-se translúcido como a flor.
O espírito – aquilo que não tem forma –
brilha através de si para este mundo.

Nunca poderá consegui-lo no nível da forma. Nunca poderá colher e acumular todas as formas que pensa serem necessárias para encontrar a plenitude.

Algumas vezes conquista todas essas coisas. Vê que tudo na sua vida está a funcionar perfeitamente: a sua saúde está boa; os seus relacionamentos estão bons; tem dinheiro, bens, amor e respeito das outras pessoas. Porém, em pouco tempo algo começa a ruir aqui e ali.
São as finanças, ou os relacionamentos, a saúde, o seu trabalho ou a sua de vida em geral que apresentam ruptura. É esta a natureza do mundo da forma. Nada permanece fixo, unido por muito tempo, começando a separar-se novamente.

As formas dissolvem-se. Novas formas surgem. Observe as nuvens. Elas ensiná-lo-ão sobre o mundo da forma.

Os meus pensamentos costumavam pesar-me,
até que tomei consciência do intervalo entre eles,
por mais pequeno que fosse...
O Sol nunca se põe. Trata-se apenas de uma aparência, que ilusão sublime!

Quando não coloca compulsivamente nomes nas coisas, quando deixa ir embora o apego à sua própria estória, torna-se vivo no momento presente. A Presença, o Ser surge e substitui o conceito conceptual do ser.
Você torna-se muito simples. A necessidade de se tornar especial desaparece. Torna-se uma pessoa comum. Não necessita mais de projectar um sentido de especialidade e encontra a sua identidade nisso.

Que liberdade vem até si quando não precisa mais de ser especial para ter conhecimento da sua identidade! Que liberdade sente quando está em contacto com a preciosidade que é a sua essência.

Quando ouve um pássaro, há um momento de audição pura antes da mente dizer uma palavra sobre isso. Se conseguir estar atento a si próprio sempre que algo novo entra na sua consciência, fica apto a captar esse primeiro momento. E aí esta ela: a serenidade, a imutabilidade, o conhecimento de si próprio.

Quando toma consciência disso, verificará que o espaço do silêncio tornar-se-á maior. A serenidade que é o plano de fundo para sentir as percepções torna-se mais vasto. É sempre vasto, mas você ainda não sabia. A serenidade do seu interior expande-se, e depois, conforme vai experienciando a sua vida, esse estado de consciência fluirá para tudo o que fizer.

Tão sereno é o lago!
Quase se dissolve no nada...

A voz na cabeça, que nunca pára de falar, torna-se numa civilização que está obcecada com a forma e assim não sabe nada sobre a dimensão mais importante da existência humana:
o sagrado,
a serenidade,
a não forma,
o divino.

“Que lucrará, se ganha o mundo e se perde a si próprio?”

Entre no portal do Agora.

Há uma linda estória sobre a visão da autora do “Curso em Milagres” antes de ter recebido o “ditado” para escrever este curso. Na sua visão ela encontrou um rolo de pergaminho numa caixa velha. Era antigo e logo que ela começou a desenrolá-lo para ambos os lados, reparou nuns símbolos escritos do lado esquerdo e outros do lado direito. Uma voz disse-lhe: “Se leres o que está no lado esquerdo, conhecerás o passado, se leres o que está no lado direito, conhecerás o futuro.”

Ela olhou para ambos os lados e depois enrolou, outra vez, o rolo até ao início, onde, no centro, estava escrito: “Deus é”. Ela afirmou: “É tudo o que me interessa. Não quero mais nada”. A Voz respondeu: “Parabéns! Conseguiste, desta vez”.
O ponto de focagem dela tornou-se no momento presente.

A forma deste momento é o portal de acesso à dimensão sem forma. É a porta estreita, de que Jesus fala, que leva à vida. Exactamente. É muito estreita. É apenas este momento.

Para a encontrar, necessita de enrolar o rolo da sua vida na qual a sua estória está escrita, o passado e o futuro. Antes de existirem os livros havia os rolos que eram enrolados, em cada ponta, quando a tarefa terminava.

Da mesma forma, coloque a sua estória de parte. Não é quem você é. As pessoas usualmente vivem transportando cargas do passado e do futuro, uma carga da sua estória pessoal, com a qual esperam preencher-se no futuro.

Isso não irá acontecer. Enrole esse velho rolo. Considere-o acabado.

Procure uma árvore e deixe-a ensinar-lhe
a serenidade dela.

A razão original da arte é o sagrado. Ser um portal, um ponto de acesso para o sagrado.
Quando a vê ou a vive, experiencia-se a si próprio. Nela vê-se a si próprio reflectido. Na arte verdadeira, a não forma brilha através da forma.

Actualmente, o propósito final de toda a gente não deverá ser criar arte. É mais importante se numa obra de arte. Toda a sua vida, o seu próprio ser, torna-se transparente para que a não forma possa brilhar através dele.

Isso acontece quando não está mais totalmente identificado com o mundo da forma. Isso acontece quando tem acesso ao reino da serenidade dentro de si. Então alguma coisa emana através da forma, que não é forma.

Você é a luz na qual as formas aparecem.
A natureza da árvore: quieta,
contudo activa e interessantemente viva,
crescendo em direcção ao céu.

A mente pode perceber uma paisagem campestre, mas a floresta é demasiado caótica.
Contém uma ordem maior que não pode ser percebida através do pensamento.
Todavia, poderá sentir essa ordem quando fica sereno.
Você é uma parte disso, parte desse sagrado.

Os seus problemas não são resolvidos na actividade do pensamento.
Cria, em vez disso, problemas ao pensar.
A solução aparece sempre quando sai do pensamento e fica sereno e absolutamente presente, mesmo que seja por um momento. Então, um pouco mais tarde, quando o pensamento retorna, surgirá de repente uma intuição criativa que não estava lá antes.

Abandone o pensamento excessivo e veja como tudo muda. Os seus relacionamentos mudam porque, não exige que a outra pessoa faça alguma coisa para si para que você ganhe o seu sentido do Eu, não se compara com os outros ou tenta ser mais do que o outro para fortalecer o seu sentido de identidade.
Permite a toda a gente ser quem é. Não necessita de mudá-los. Não necessita deles para se comportar de forma diferente para ser feliz. Cada pensamento na sua mente sobre o qual está inconsciente tem um sentido de ser em si. Um sentido de eu sou.

Se se identifica com o movimento do pensamento é a essência da vida inconsciente. E é por essa razão que as pessoas vivem continuamente para o futuro – nos seus pensamentos do futuro, elas esperam completar a sua insuficiência do eu. Elas esperam encontrar o final feliz da sua estória de vida, uma construção mental que elas confundem com a sua identidade.
Neste contexto, a procura compulsiva da busca por “mais” tornou-se o dilema da existência humana.

O fotógrafo levantando a mão para saudar o Sol tal como o seu próprio reflexo numa bolha de ar de uma poça de água na praia.
Mais alguns segundos, um pouco mais de anos, um pouco mais de “aeons” – e todos terão desaparecido.
O espaço exterior e o interior são, no final, apenas um.

“Parte um pedaço de madeira. Eu estou lá. Levanta uma pedra e encontrar-me-ás lá”
S. Tomás.

Diz-se que há duas formas de se ser infeliz: não conseguindo o que se quer, e conseguindo o que se quer.

Quando as pessoas atingem o que o mundo diz que é desejável – riqueza, reconhecimento, propriedade, realizações – continuam ainda infelizes. Não estão em paz consigo mesmas. Não sentem segurança, nem a sensação de que finalmente chegaram.

As suas conquistas não lhes providenciaram o que elas realmente estavam à procura – elas próprias. Estas coisas não lhes deram a certeza de estar bem enraizados na vida, ou como Jesus chama, na plenitude da vida.

Um animal não perdeu a sua unidade com a totalidade. Não está sobrecarregado com uma carga contínua de corrente de pensamentos. Está profundamente enraizado no Ser. Não cria um mundo de problemas. É uno com a vida.

Não espero a chegada da Primavera. Eu sei que há um tempo para a acção e um tempo de retraimento da acção. Estou rendido ao momento presente. Sou uno com a vida.
Tal como a luz é filtrada pelas nuvens, a consciência é filtrada através dos pensamentos.
Embora eu pense, eu sei ainda quem sou.

Não há nada de errado em fazer coisas novas, perseguir novas actividades, explorar novos países, encontrar novas pessoas, adquirir conhecimento e especialização, desenvolver as suas capacidades e habilidades físicas e mentais e criar aquilo que sente ser chamado a fazer neste mundo.

É belo criar neste mundo e haverá sempre mais coisas que poderá fazer.

Agora a questão é: está a olhar para si mesmo naquilo que faz? Está a tentar acrescentar mais àquilo que é? Está compulsivamente lutando pelo momento seguinte, e pelo seguinte, e pelo seguinte, esperando encontrar algum sentido de completude e plenitude?

Isto também irá passar...

A mente não pensa sobre a serenidade assim: “Oh! Isto é interessante, vou recordá-lo.”, porque a serenidade não é interessante. “Interessante” é aquilo que a mente pode pensar sobre, mas isso não é final.

Observe uma árvore, ou uma flor, ou um pôr do Sol. No momento em que os analisa, junta uma legenda mental e essa coisa torna-se interessante, contudo a sua profundidade e a sua vivência ficam perdidas.
Se olhar verdadeiramente para um carvalho, ou um pôr do Sol, aquilo para o qual está a olhar vai muito além do facto de ser interessante. Fique apenas com isso, contemple-os e será espantosamente inspirador. Há uma profundidade aí que desafia a análise da mente.

Nenhuma forma é eterna, mas o eterno brilha através das formas.
As formas tornam-se transparentes.

Você não é eterno como forma, porém existe uma transparência em si. Isso é o que está para além da forma, independente do que lhe quiser chamar – serenidade, Presença, uma profunda sensação do Eu Sou.
Anteriormente estava misturado com a estória do eu, com construções mentais.

A preciosidade do Ser é a sua verdadeira especialidade. Aquilo que o eu egocêntrico estava a procurar no nível da estória – eu quero ser especial – obscureceu o facto de que não poderia ser mais especial do que é agora na realidade.

Não é especial porque é melhor ou mais correcto do que qualquer outra pessoa, mas porque pode sentir a beleza, uma preciosidade e vivência profunda no interior.

Independentemente do tamanho de que o seu caminho possa ter, nunca haverá mais do que: um passo, uma respiração, um momento – Agora.

Apenas quando o aspecto transitório de todas as formas é reconhecido e aceite poderá o mundo ser gozado pelo que é:” Leela”, o divino jogo da canção de Tao. O silêncio testemunha.

O pensamento cede quando acaricia o seu cão de estimação ou tem um gato a ronronar no seu colo. Apenas o facto de observar um animal poderá levá-lo a “ficar de fora” da sua mente.
O animal está mais profundamente ligado com a fonte da vida do que a maioria dos seres humanos e aquele desenraizamento do ser transmite-se a si. Milhões de pessoas, as quais de outra forma estariam completamente perdidas na realidade conceptual da mente, mantêm-se sãs ao viver com um animal.

Se a sua mente está serena, poderá sentir uma sensação de paz que
emana da Terra.

Estamos aqui para encontrar aquela dimensão dentro de nós próprios que é mais profunda que o pensamento.

Quão insignificantes parecemos ser comparados com a vastidão!
E contudo, aquela vastidão, aquela profundidade infinita está dentro de nós, inseparavelmente do que é.



Forma e espaço interpenetram-se de fora para dentro e de dentro para fora.

Sem comentários:

Enviar um comentário